sábado, 13 de dezembro de 2008

A Porta


Praia da Barra,Moçambique
Autoria: Isabel Morgado


Filipe vai ao bolso e pega nas chaves de casa,para abrir a porta.
Um ritual banal e normal,que ultimamente tem tido nele um efeito marcante.
Afinal, vai abrir a porta para lá, encontrar uma casa vazia;Onde as luzes não estão acessas quando ele chega, nem a televisão dispara os sons habituais da bonecada que é transmitida,para os miúdos se entreterem enquanto se preparam para mergulhar na banheira,antes do jantar.
Está vazia,melhor dizendo, está esvaziada de vida própria e sobretudo, está sóbria pelas vidas que partiram daquele quadrado de betão e tijolo, agora silencioso.
Filipe,suspira.Filipe questiona.Filipe tem saudades,muitas saudades...
remete-se a ligar o botão que ilumina a casa solitária e sem movimento,tentando rever onde estão todas as memórias que ele forçou em encolher na sua mente.
Ele bem tenta, mas a tristeza e melancolia persistem enquanto ele vive naquela casa, tal como se fosse um apátrida, refugiado de uma guerra que ele não entende,mas que aceita como facto consumado.
Percorre as divisões da casa até á casa-de-banho e liga a torneira da água quente;
Vai mergulhar numa bola de espuma até esqueçer o quanto as costas lhe afrontam o bem estar ao fim de uma semana extenuante.
Pára por um minuto.reflecte,e decide para si mesmo;
"Vou convidar o prazer a fazer-me um pouco de "cortesia"! Afinal, já não ponho o B.B.King algum tempo e se fôr acompanhado pelo murganheira que ali gela no frigorifíco....hummm"
Solta-se um sorriso de satisfação e decide trazer o computador para perto da banheira para o B.B, dar o seu show privado para ele...
Mergulha na banheira que vai soltando arômas de camomila e sándalo que o fazem transportar para o lado mais escondido da sua alma.
saboreando o Murganheira, regala os olhos e pensa que neste Fim-de-semana, vai pegar no carro e ir em direcção aquele sítio que é tão longe, que o seu regresso é indeterminado.
Ele, vai reencontrar a alegria que uns tempos antes,ficou ferida,quando decidiu que o Amôr não é um compromisso,mas sim uma homenagem expontânea entre dois seres que um dia cruzaram os seus segredos.

Nota: nome fictício


Amitab(Mito) 2008

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